domingo, 30 de setembro de 2012

Técnicas nas reportagens investigativas

As reportagens investigativas têm como princípio a exposição de casos encobertos ou de difícil acesso.O jornalista investigativo, provocado por questionamentos, busca a essência dos acontecimentos e procura entender uma situação que prejudica, de alguma forma, a coletividade. 

Pepe Rodríguez (1994) aponta algumas características pessoais e estruturais que podem auxiliar um repórter no andamento de seu trabalho investigativo. Algumas qualidades são importantes, como ter uma boa observação, memória visual, capacidade de previsão e planejamento, improvisação, conhecimentos gerais amplos, discrição e capacidade de assumir riscos (RODRÍGUEZ, 1994, p.17). O tempo e a disponibilidade também são essenciais. 

No início da investigação, o repórter tenta reunir todos os fatos, até mesmo, os que possam parecer insignificantes. Combinar observação com pesquisa e estudo de arquivos públicos são técnicas úteis para a investigação. "É fundamental o conhecimento profundo dos mecanismos burocráticos onde os arquivos se encontram e que o jornalista tenha tempo de encontrá-los" (LOPES e PROENÇA, 2003, p. 17). Os autores Lopes e Proença (2003) apontam como regra fundamental para a condução de um trabalho investigativo a comprovação de endereços e nomes corretos das pessoas ou organismos das quais se fala. 

AS FONTES 

A fonte jornalística é um dos canais informativos dos repórteres. Ela é essencial a todo o trabalho jornalístico na construção de uma notícia. As fontes podem determinar a qualidade da informação produzida pelo repórter. O relacionamento entre repórter e fonte é sagrado e protegido pela Constituição Federal (Artigo 5º, inciso XIV, da Constituição Federal de 1988).  

A relação com a fonte deve ser muito profissional. Deve-se conferir à exaustão a confiabilidade das fontes e das informações. É importante lembrar que não se deve ficar preso às fontes oficiais e apurar profundamente as informações recebidas. A fonte em off pode ser fundamental, porém, o cuidado deve ser maior com esse tipo de informante. "Nesse caso, é fundamental que duas normas sejam estabelecidas: a razão do anonimato deve ser explicada na matéria e a informação oferecida deve ser checada com, no mínimo, outra fonte (LOPES e PROENÇA, 2003, p. 22).

Vale lembrar que o amado e idolatrado site de busca GOOGLE não é considerado fonte de pesquisa principal em uma matéria jornalística. A internet deve nos ajudar na apuração de um conteúdo e não prejudicar ou empobrecer uma informação. 





 


Narratively

O meu primeiro post aqui foi sobre o Narratively. O projeto pretende fazer um jornalismo mais lento com profundidade e foco local (Nova Iorque). Então, o projeto conseguiu arrecadar mais de $50.000 e foi fundado.




 NA WEB


Agora o Narratively está na web e posta notícias com um engajamento hiperlocal. Para impulsionar a esse tipo de engajamento, Narratively tem uma característica interessante chamado banco do parque. Toda sexta-feira no lugar de uma história, o site posta todos os comentários e reações dos leitores sobre as reportagens da semana.

 
O que é importante para o site são as noções de engajamento em múltiplos níveis. O conteúdo é direcionado a comunidade de forma cada vez mais próxima e local. Além disso, o Narratively proporciona uma interação com o conteúdo multimídia e, também, com a sessão banco do parque.





quarta-feira, 26 de setembro de 2012

“Candidato Acidental“



Jornal da Tarde infiltra candidato a vereador nas eleições deste ano em São Paulo. Segundo o site do jornal, o objetivo é cobrir a campanha eleitoral de uma perspectiva diferente. O jornalista, cuja identidade não foi revelada, posta em um blog como é a corrida eleitoral dos mais de 1,2 mil candidatos da cidade de São Paulo, a partir de sua própria experiência.

A iniciativa é inovadora mas volta em uma antiga discussão sobre os limites éticos jornalísticos. Será que no jornalismo vale tudo? A verdade é que o tal jornalista aceitou a “brincadeira” de enganar o TSE, inventar propostas de melhoria de vida para a população, participar de reuniões de partido, de eventos e caminhadas, fingir ser quem não é e enganar todos os eleitores que assistem o guia eleitoral em busca de mais informação. Sim, o candidato filiou-se a um partido, preencheu a papelada, apresentou CNPJ, formulou propostas e teve a candidatura aceita.


Existe uma linha tênue entre o limite ético e o jornalismo investigativo de qualidade. A questão é que o repórter está, em primeiro lugar, enganando o eleitor (leitor) assim como muitos outros candidatos. Não faz sentido ele denunciar o que ele está fazendo de uma certa maneira. A questão é se, realmente, existe a necessidade de esconder a identidade de repórter para conseguir informações preciosas e denúncias bombásticas.Talvez o erro seja revertido depois das eleição.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A SEMELHANÇA COM A REALIDADE NÃO É MERA COINCIDÊNCIA

(...) começo a entender que tudo aquilo que se escreve ou fala, mesmo de fatos ou pessoas reais, sempre se torna mítico, escorregadio e arbitrário. É impossível abranger toda a complexidade do homem. (SANT’ANNA, 1991: 205)
 


O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, em vigor há 25 anos e atualizado num congresso realizado em Vitória, em 2007, define que “a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público” (Art. 2º, inciso II). Nesse sentido, em um período eleitoral, como estamos atualmente, é intolerável que denúncias sejam aumentadas, diminuídas ou omitidas. É condenável, também, fazer acusações a um candidato para favorecer outro. Essa postura infringe outra parte do Código que delineia que “a obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação, a aplicação de censura e a indução à autocensura são delitos contra a sociedade” (Art. 2º, inciso V).


QUANDO CANDIDATO A VEREADOR VEM FALAR COMIGO EM UMA CAMINHADA (via jornalices)



          
 

De certo modo, não se deve esperar uma objetividade plena de um jornalista. Entretanto, a produção jornalística ainda é pautada de maneira que a objetividade prevaleça. O homework, na maior parte do tempo, está sendo feito. Os dois lados de um assunto são ouvidos. A conduta profissional é demonstrada nos pilares da veracidade, da precisão e da imparcialidade. É importante garantir esses preceitos independentemente da linha política de seus proprietários e/ou diretores ou da natureza econômica de suas empresas.

sábado, 15 de setembro de 2012

O sucesso da ProPublica

A ProPublica foi criada na era digital nos EUA, em um período que muitas publicações impressas tradicionais sofriam economicamente. Fundada em 2007 com um compromisso de longo prazo de US$ 30 milhões (em torno de R$ 61 milhões) dos filantropos Herbert e Marion Sandler, a entidade já ganhou diversos prêmios, incluindo um Pulitzer, em 2011, por reportagem nacional por uma série sobre Wall Street. Foi a primeira vez que um Pulitzer, a mais prestigiada premiação do jornalismo americano, foi concedido para matérias que não foram publicadas originalmente no meio impresso. A ProPublica é um modelo de sucesso de jornalismo investigativo.

A organização sem fins lucrativos também prestou contribuição para o chamado jornalismo de dados. A cobertura jornalística com base em dados é uma combinação de variados campos – de design gráfico a pesquisa investigativa. A ProPublica recebeu, este ano, US$ 1,9 milhão (quase R$ 4 milhões) da Knight Foundation para investimentos na área de jornalismo de dados. O dinheiro será usado para apoiar a equipe de aplicativos de notícias, incluindo o acréscimo de uma profissional em tempo integral.

Desde seu lançamento, há cinco anos, o ProPublica tem como objetivo ser uma “força moral” nas notícias. No entanto, a equipe fundadora não imaginava que o jornalismo de dados seria uma força propulsora no site.

Doações

Em sua missão, a ProPublica compromete-se a gastar US$ 0,85 de cada US$ 1 em notícias. Além disso, reforça o compromisso com o fato de ser uma entidade sem fins lucrativos – e a filantropia continuará a ser a principal fonte de receita.

Se você gostou e quiser conhecer mais sobre a ProPublica Clique aqui para ler as reportagens, em inglês.

sábado, 8 de setembro de 2012

Web 3.0

O polêmico Andrew Keen, autor de "O Culto do Amador", é conhecido por suas críticas à web 2.0 e apelidado como "o anticristo do Vale do Silício".  No livro, ele tem um olhar crítico sobre a internet e fala sobre o conteúdo produzido na internet.

Em agosto, ele lançou no Brasil o livro "Vertigem Vertical". Andrew defende a ideia de que criamos uma realidade na internet que não é a verdadeira realidade da nossa vida. Usando o cineasta Hitchcock como referência, o teórico fala do filme "Um Corpo Que Cai", onde um homem se apaixona por uma mulher que na verdade é a imagem do que ele idealiza como mulher, e não ela própria. "A internet está sendo apresentada como a rede que conecta as pessoas, mas isso é uma coisa que não existe", declara.

Andrew Keen em apresentação no The Next Web Latin America, em São Paulo.


"Todos os dias eu sou pego por uma nova rede social. Há redes sociais para dirigir, sair, comprar. Não gosto de compartilhar tudo sobre a minha vida. Essas redes incitam a gente a compartilhar tudo. O que nós comemos, o que nós escutamos, o que gostamos, o que fizemos, o que estamos fazendo e o que vamos fazer. (...) Nessa Web 3.0, nós somos a informação", declara o escritor.




Nessa entrevista à "IstoÉ Dinheiro", Andrew fala mais sobre o livro. Vale a pena conferir!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

ALÉM DO GOL

Organizado pelo jornalista Fernando Molica, 11 GOLS DE PLACA, terceiro volume da Coleção Jornalismo Investigativo, uma iniciativa da Editora Record e da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), traz uma seleção de grandes reportagens que ajudam a explicar muitas das infelicidades do nosso futebol.

A leitura das matérias transcritas no livro fala sobre problemas que se acumulam por muitas décadas. Uma escalação que mistura corrupção, pobreza, desemprego, falsificação de documentos, abuso de poder e exploração de menores.

O futebol revela o que temos de melhor e de pior. Como lembra o jornalista Paulo Vinicius Coelho, que assina a orelha do livro, a editoria de esportes é um celeiro de grandes jornalistas, e engloba todo tipo de reportagem – a eleição de um clube ou a crise em um time podem gerar boas matérias sobre política ou economia, enquanto a lesão de um craque e uma entrevista com o médico da equipe resultam em interessantes pautas de saúde.

O importante é conseguir fazer reportagens além da emoção que o esporte causa, ir além das técnicas e do gol. Uma coisa é se emocionar com o esporte e contar as belezas de um jogo, outra coisa é o que está por trás e por baixo disso tudo.