quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Erro?

Não há estatísticas oficiais sobre erros cometidos por médicos, enfermeiros, técnicos e assistentes de enfermagem. Mas por que esses erros acontecem? Falta de treinamento, de supervisão? Quais os direitos do paciente e da família? O que fazer em caso de suspeita de erro? O programa Contraponto discute a educação médica e os direitos dos pacientes em casos de falhas no ambiente hospitalar.  

Para assistir o programa que apresento na TV PUC-Rio (UTV - Canal 11 da NET) clique aqui


Um computador e uma mulher

"Geração Y é um Blog inspirado em pessoas como eu, com nomes que começam ou contem um ípsilon. Nascidos na Cuba dos anos 70 e 80, marcados pelas escolas rurais, bonequinhos russos, saidas ilegais e frustração. Assim é que convido especialmente Yanisleidi, Yusimí, Yuniesky e outros que carregam seus ípsilons para que me leiam e me escrevam".

Conhecida por seu blog Generación Y, Yoani Sánchez é uma jornalista cubana que ficou famosa internacionalmente por criticar a situação social de Cuba. O blog foi criado em 2007 e logo ganhou proporções mundiais. Yoani precisa acessar a internet em cafés ou hotéis. Em Cuba, para ter um computador em casa com acesso a internet é preciso ser aprovado pelo governo.

As únicas armas de Yoani são um computador e um celular. Ela não é inimiga de nenhum partido. A jornalista é simplesmente uma cubana que conta no blog a sua vida cotidiana. Conta, por exemplo, a luta para conseguir o alimento que sua família precisa e as normas absurdas da repressão. Generación Y é o blog mais visitado de Cuba e tem tradução para 20 idiomas. Além da dificuldade do acesso à internet, Yoani já foi vítima de agressão e até sequestro. Em toda a mídia oficial cubana existem inúmeras acusações contra Yoani. As principais são de que seria uma mercenária paga pelo governo dos Estados Unidos e que seus artigos supostamente denigririam a revolução cubana e que ela estaria fomentando um subversão interna.

Abaixo uma entrevista que Yoani Sánchez deu por telefone para um programa de TV:


domingo, 25 de novembro de 2012

"Repórter bom é repórter vivo"

No Brasil, depois da morte do jornalista Tim Lopes, a segurança dos jornalistas foi repensada. No período pré-Tim Lopes os repórteres tinham mais facilidade em entrar em áreas de risco. Nas favelas, por exemplo, os traficantes olhavam os profissionais como porta-vozes da realidade das comunidades. Hoje, é preciso usar coletes à prova de bala, ser mais cauteloso e tentar fazer treinamentos periodicamente.

No livro "Jornalismo Diário", Ana Estela de Sousa Pinto enumera nove medidas de segurança em casos de riscos:

"x Se sentir que um cobertura apresenta um risco que você não está preparado para assumir, converse com seu editor. É jornalisticamente aceitável recusar uma cobertura quando há risco à saúde ou à vida. Repórter bom é repórter vivo.

x Se perceber que já tem experiência suficiente para se envolver numa cobertura de risco, não deixe de conversar com outros repórteres ainda mais experientes. Peça dicas, pergunte sobre os perigos pelos quais eles já passaram e sobre como contornaram o problema. Estude sua cobertura específica com eles, levante os possíveis riscos e maneiras de evitá-los.

x Conheça bem o local da cobertura. Levante mapas, fale com a delegacia da região, procure fotos do local. Saiba bem por onde vai andar e como fazer o caminho de volta, se for preciso.

x Se vai entrar em um bairro perigoso, faça antes contato com os chamados "líderes comunitários". Infelizmente, há locais nas grandes cidades em que não é possível entrar sem a proteção de moradores do local. Nesses casos, a cobertura pode ficar limitada e talvez seja interessante informar no texto as condições em que foi feita.

x Combine com seu editor horários em que vocês devem se falar por telefone. Combine o que cada um deve fazer caso uma dessas ligações não ocorra.

x Em São Paulo e no Rio, jornalistas já usam coletes à prova de bala e até capacetes em algumas coberturas. Consulte o editor sobre essa possibilidade, se achar que é o caso.

x Não aceite caronas. Em casos excepcionais, se conhecer bem a fonte, pode até passar. Mas procure sempre usar os meios de transporte da sua empresa.

x Com fontes que não conhece, só marque encontros em locais públicos, de preferência frequentados por mais gente, como restaurantes, shoppings, parques.

x Se, numa investigação, tiver que se encontrar com uma fonte em lugar que não seja público, leve um fotógrafo ou um repórter junto."

Neste ano, completou 10 anos da morte de Tim. Nos dias 31 de maio e 1 de julho de 2012 ocorreu o evento "Jornalismo de Risco: Tim Lopes 10 anos depois". Ele foi organizado pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM/RJ). Os vídeos do seminário estão na internet, coloquei os links abaixo.


Tema: os desafios do exercício do jornalismo no Brasil

Vídeo 1 (1h59min): Vera Araújo (O Globo), Ruy Sposati (Movimento Xingu Vivo, Altamira, Pará), Cândido Figueredo (ABC Color, Paraguai) e Francisco Evanildo Queiroz (Rádio Vale do Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Ceará) falam sobre estratégias usadas para difamar ou ameaçar os jornalistas, autocensura e impunidade dos crimes.
Vídeo 2 (1h44min): Suzana Blass (presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do RJ), Marcelo Moreira (presidente da Abraji), e Ricardo Trotti (SIP) debatem o que podem e devem fazer as empresas para prevenir riscos a suas equipes.
Vídeo 3 (1h12min): João Antônio Barros (O Dia) se uniu a Sposati, Figueredo e Queiroz no debate sobre formas de proteção. Ele mostrou exemplos do dia a dia da redação no Rio de Janeiro. A professora e diretora da Abraji Luciana Kraemer participou da conversa.
Vídeo 4 (2h28min): aborda os limites para se obter uma boa imagem, com a participação de Domingos Peixoto (O Globo), Daniel Andrade (Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro – Arfoc), Bira Carvalho (Imagens do Povo/Observatório de Favelas), Guillermo Planel (documentarista, RJ), e Bruno Quintella (filho de Tim Lopes e jornalista).

DIREITO PARA JORNALISTAS

O jornalista não é juiz, promotor e nem delegado. Por isso, não deve acusar uma pessoa de um crime, por exemplo. Mesmo em caso de confissão. Uma pessoa só pode ser considerada culpada de um crime depois de condenado em última instância. E uma pessoa que já cumpriu sua pena por um crime deixa de ser considerada assassina, ou qualquer outro título que a ela era atribuído antes de pagar por isso.

É por isso que os jornalistas, principalmente os investigativos, devem saber onde estão se metendo, o que podem publicar ou não e as possíveis consequências jurídicas que a reportagem pode ter.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) oferece o curso Introdução ao Direito para Jornalistas. As aulas são presenciais e ministradas por promotores ligados ao Ministério Público Democrático (MPD). O curso é focado nas necessidades mais comuns dos jornalistas. As aulas exploram os erros cometidos por jornalistas na cobertura jurídica usando exemplos tirados de reportagens de jornais. São explicados os caminhos dos processos, a estrutura da justiça brasileira e seus agentes, os jargões jurídicos, entre outras noções básicas de direito.

ERRO DE APURAÇÃO


Todo ser humano está sujeito a cometer erros. No meio hospitalar, por
exemplo, erros podem levar até a morte de um paciente. Já o erro de apuração jornalística pode provocar estragos inimagináveis. A apuração é o processo de produção jornalística crucial na elaboração de uma matéria. Apurar é checar, perguntar, rechecar, desconfiar e, por fim, informar.

Os erros não passam despercebidos. O leitor cobra. Uma falha considerada “boba” para o autor da matéria pode causar transtornos na vida de uma fonte ou do alvo da reportagem. Celebridades são quase sempre vítimas. Um conteúdo de entretenimento errado sobre algum modelo, atriz, cantor, por vezes, param na justiça. Por trás dos sites de “fofocas” estão jornalistas, e se são jornalistas, devem apurar a informação antes de publicá-la.

Errou?

 O erro é matéria e deve ser publicada. No livro “A Arte de Fazer um Jornal Diário”, Ricardo Noblat fala da dificuldade de publicar admissão de erros e lembra a atitude do Correio Braziliense:

“Em 3 de agosto de 2000, o Correio Braziliense cometeu um enorme erro em matéria que foi manchete de primeira página. A manchete dizia: “O grande negócio de Jorge”. Dava conta do envolvimento do ex-secretário da presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira em um negócio suspeito com o Banco do Brasil.

A matéria estava errada de uma ponta a outra. E na edição seguinte, o jornal assumiu o erro em manchete de primeira página.

A manchete “O Correio Errou” de 4 de agosto de 2000 ganhou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Impressa. Ganhou também, na mesma categoria, o Prêmio Claúdio Abramo de Jornalismo.”
 
 

sábado, 24 de novembro de 2012

Se torcer sai sangue?


O jornalismo, de uma maneira geral, precisa atender dois principais critérios de noticiabilidade: importância e interesse. O jornalismo investigativo é aquele que dá mais ênfase na questão das notícias importantes, ou seja, na importância social. Já o jornalismo chamado de sensacionalista, considerado ruim por pesquisadores e estudiosos, pode ter um viés importante nisso tudo. Uma questão fundamental para isso, é que em países emergentes, como o Brasil, África do Sul, Índia, China, o jornalismo impresso, diferente do que acontece na Europa e nos Estados Unidos, vem crescendo, aumentando a tiragem e surgindo novos títulos. A chamada nova economia do século XXI, vem aumentando o jornalismo para o que é chamado de nova classe média. A partir disso, o sucesso de jornais como o “Expresso”, “Meia Hora”, “Extra” e “O Dia”, chamam atenção. É preciso não ter preconceito da imprensa chamada de sensacionalista. Ela também possui contribuições importantes. Para uma série de autores, ou seja, o senso comum dos acadêmicos, o sensacionalismo é uma disfunção narcotizante. Segundo a teoria da comunicação, disfunção narcotizante é o efeito que o excesso de informação causa as “massas”, tornando as pessoas menos críticas devido ao grande volume de dados a que entra em contato. A crítica é principalmente à televisão.

Mas, por que não devemos ter preconceitos aos jornais populares? Um ponto é que, o que diferencia a imprensa de referência, chamada imprensa séria, da imprensa sensacionalista é o grau de utilização dessas narrativas. Outro ponto é que vários desses jornais, como O Dia, ganharam o Prêmio Esso de jornalismo. E o prêmio mostra o que é o ideal na prática jornalística e mostra o que há de melhor.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Abaixando a Máquina - Ética e dor no fotojornalismo carioca


O documentário Abaixando a Máquina aborda questões do fotojornalismo contemporâneo. Como o longa é de 2008, mostra um Rio de Janeiro antes das pacificações e com constantes confrontos entre traficantes e policiais nas comunidades cariocas. A principal característica dos fotógrafos é a ousadia. Eles enfrentam situações de risco sempre de olho no foco. O filme também mostra a relação entre os fotógrafos com as comunidades carentes. Exibe os dilemas dos profissionais atrás de suas câmeras e que, por vezes, se sentem obrigados a abaixar a máquina. 

"Quando falam que a gente é kamikaze, nu fundo é verdade." Nilton Claudino

"Nenhuma vida vale uma foto." Marcelo Carnaval

"Fotógrafo não faz demagogia, fotógrafo faz fotografia." Flávio Damm


Confira abaixo o filme completo:


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Homem morde cão




O que é notícia? Uma definição clássica: se um cachorro morde um homem, não é notícia, mas se um homem morde um cachorro, aí então é notícia. Tal explicação resume bem essa pergunta por englobar o pitoresco e o singular. Em contrapartida, a anormalidade da notícia é nomeada, comparada e analisada. Dessa forma é criada uma ideologia, para que os leitores se sintam representados pelos eventos que mais se identificam. Se identifiquem até mesmo no contraste (homem x animal). Isso pode ser notado na exploração do diferente que tende para o sensacionalismo. Usar a lógica das sensações é ser jornalista. Ser capaz de inserir o entretenimento no valor-notícia e mexer com a percepção do público. Sendo assim, “Homem mordendo cachorro” será sempre notícia. Veja algumas abaixo:




HOMEM MORDE CACHORRO NA ALEMANHA (Fonte: Folha Online)

sábado, 10 de novembro de 2012

"Histórias de Arcanjo - um documentário sobre Tim Lopes"




Foto Mauren McGee


Um jovem, mas nem tão jovem assim, filho do jornalista Tim Lopes, decidiu fazer um documentário sobre a vida do pai. Bruno Quintella é jornalista e trabalha na TV Globo. Ele foi até a PUC-Rio e falou do filme, da vida jornalística e, claro, do pai.

A ideia começou em 2004 quando o cinegrafista e amigo pessoal de Tim, Guilherme Azevedo procurou Bruno nos corredores da emissora, onde ambos trabalham. Mas apenas em 2009 os dois registraram o argumento do documentário na Biblioteca Nacional. Em 2010, os depoimentos começaram a ser gravados. Amigos, colegas que trabalharam com ele e pessoas que compartilharam da vida pessoal de Tim foram ouvidos.

Na construção do trabalho, Bruno conheceu mais o jornalista Tim Lopes. Para ele, as reportagens do pai eram como mini documentários. Tim tinha uma característica de falar pouco em suas matérias e dar voz aos seus personagens. Outra característica destacada pelo filho era o jornalismo humano do pai. Para Bruno, explorar sentimentos não é jornalismo humano. Ele chegou a citar casos recentes como exemplos, como o de Isabela Nardoni e o massacre da escola de Realengo. 

Tim Lopes e Bruno Quintella

O Bruno também abordou duas questões sobre a rotina jornalística. A primeira foi sobre os profissionais que migraram do impresso para o telejornalismo. Enquanto o jornalista da TV fazia apenas o feijão com arroz da matéria, o jornalista do impresso precisava apurar muitas informações para conseguir escrever mais. Por isso, matérias consagradas no telejornalismo são de repórteres que migraram do impresso. A segunda questão foi sobre o “jornalismo sentado”, ou seja, o repórter que deixa de gastar sola de sapato para ficar na frente do computador. Essa situação, segundo o Bruno, denota nas redações atualmente uma atitude correta. Enquanto o profissional que está na rua, “está voando, dando migué”.

Bruno ainda deu a visão dele sobre jornalismo investigativo, “Jornalismo investigativo não é jornalismo de morro, não é jornalismo policial” e complementou, “Jornalismo investigativo é, às vezes, você botar uma roupa e pegar um trem”.


Curiosidades

Uma seleção de fotos do Making of do Histórias de Arcanjo, retiradas da página do documentário no facebook. Fotos Mauren McGee.




























Um pouco de história









Mais conhecida como Nellie Bly, Elizabeth Jane Cochran foi pioneira das reportagens investigativas. A carreira começou com uma carta que contestava o artigo “Para que servem as mulheres?”, do jornal Pittsburgh Dispatch. O editor ficou surpreso com a qualidade da carta e convidou a jovem de apenas 18 anos para ser repórter do jornal. O pseudônimo Nellie Bly veio do nome de uma canção popular de Stephen Foster.

As primeiras matérias falavam do desamparo legal das mulheres. Nellie Bly não queria apenas ver de perto, mas queria ver de dentro as realidades sociais da época. A partir disso, ela começou a se disfarçar e passar pelas mesmas experiências que queria relatar. Ao escrever sobre exploração infantil e as péssimas condições que os trabalhadores eram submetidos, os donos ameaçaram a tirar os anúncios do jornal. Então, a jovem repórter foi transferida para a seção de eventos sociais. Não satisfeita, ela pediu licença do jornal e foi para o México. Lá, Nellie escreveu sobre a pobreza e corrupção local e foi expulsa do país pelo governo mexicano.

Ao voltar para os Estados Unidos, Nellie foi para Nova Iorque. Ela procurou emprego no New York World, jornal de Joseph Pulitzer (criador do prêmio Pulitzer). O primeiro trabalho da jornalista no jornal foi sobre o Sanatório de Mulheres na Blackwell, na qual passou pelas mesmas experiências das pacientes. 

Em 1888, inspirado no livro A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, de Júlio Verne, o New York World decidiu mandar um repórter em uma viagem ao redor do mundo. Nellie foi escolhida. Ela partiu de Hoboken, Nova Jersey, em 14 de novembro de 1889. Em 25 de janeiro de 1890, ela completou sua viagem ao redor do mundo. Ela visitou não só a Inglaterra, Japão, China, Hong Kong como no livro, mas também Amiens (o lar de Júlio Verne) Colombo e São Francisco. 





Curiosidade:

O primeiro newsgame (jogos casuais baseados em noticias [“news” em inglês] e em fatos reais.) da história retratou volta ao mundo de Nellie Bly.