domingo, 25 de novembro de 2012

"Repórter bom é repórter vivo"

No Brasil, depois da morte do jornalista Tim Lopes, a segurança dos jornalistas foi repensada. No período pré-Tim Lopes os repórteres tinham mais facilidade em entrar em áreas de risco. Nas favelas, por exemplo, os traficantes olhavam os profissionais como porta-vozes da realidade das comunidades. Hoje, é preciso usar coletes à prova de bala, ser mais cauteloso e tentar fazer treinamentos periodicamente.

No livro "Jornalismo Diário", Ana Estela de Sousa Pinto enumera nove medidas de segurança em casos de riscos:

"x Se sentir que um cobertura apresenta um risco que você não está preparado para assumir, converse com seu editor. É jornalisticamente aceitável recusar uma cobertura quando há risco à saúde ou à vida. Repórter bom é repórter vivo.

x Se perceber que já tem experiência suficiente para se envolver numa cobertura de risco, não deixe de conversar com outros repórteres ainda mais experientes. Peça dicas, pergunte sobre os perigos pelos quais eles já passaram e sobre como contornaram o problema. Estude sua cobertura específica com eles, levante os possíveis riscos e maneiras de evitá-los.

x Conheça bem o local da cobertura. Levante mapas, fale com a delegacia da região, procure fotos do local. Saiba bem por onde vai andar e como fazer o caminho de volta, se for preciso.

x Se vai entrar em um bairro perigoso, faça antes contato com os chamados "líderes comunitários". Infelizmente, há locais nas grandes cidades em que não é possível entrar sem a proteção de moradores do local. Nesses casos, a cobertura pode ficar limitada e talvez seja interessante informar no texto as condições em que foi feita.

x Combine com seu editor horários em que vocês devem se falar por telefone. Combine o que cada um deve fazer caso uma dessas ligações não ocorra.

x Em São Paulo e no Rio, jornalistas já usam coletes à prova de bala e até capacetes em algumas coberturas. Consulte o editor sobre essa possibilidade, se achar que é o caso.

x Não aceite caronas. Em casos excepcionais, se conhecer bem a fonte, pode até passar. Mas procure sempre usar os meios de transporte da sua empresa.

x Com fontes que não conhece, só marque encontros em locais públicos, de preferência frequentados por mais gente, como restaurantes, shoppings, parques.

x Se, numa investigação, tiver que se encontrar com uma fonte em lugar que não seja público, leve um fotógrafo ou um repórter junto."

Neste ano, completou 10 anos da morte de Tim. Nos dias 31 de maio e 1 de julho de 2012 ocorreu o evento "Jornalismo de Risco: Tim Lopes 10 anos depois". Ele foi organizado pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM/RJ). Os vídeos do seminário estão na internet, coloquei os links abaixo.


Tema: os desafios do exercício do jornalismo no Brasil

Vídeo 1 (1h59min): Vera Araújo (O Globo), Ruy Sposati (Movimento Xingu Vivo, Altamira, Pará), Cândido Figueredo (ABC Color, Paraguai) e Francisco Evanildo Queiroz (Rádio Vale do Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Ceará) falam sobre estratégias usadas para difamar ou ameaçar os jornalistas, autocensura e impunidade dos crimes.
Vídeo 2 (1h44min): Suzana Blass (presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do RJ), Marcelo Moreira (presidente da Abraji), e Ricardo Trotti (SIP) debatem o que podem e devem fazer as empresas para prevenir riscos a suas equipes.
Vídeo 3 (1h12min): João Antônio Barros (O Dia) se uniu a Sposati, Figueredo e Queiroz no debate sobre formas de proteção. Ele mostrou exemplos do dia a dia da redação no Rio de Janeiro. A professora e diretora da Abraji Luciana Kraemer participou da conversa.
Vídeo 4 (2h28min): aborda os limites para se obter uma boa imagem, com a participação de Domingos Peixoto (O Globo), Daniel Andrade (Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro – Arfoc), Bira Carvalho (Imagens do Povo/Observatório de Favelas), Guillermo Planel (documentarista, RJ), e Bruno Quintella (filho de Tim Lopes e jornalista).

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