quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Erro?

Não há estatísticas oficiais sobre erros cometidos por médicos, enfermeiros, técnicos e assistentes de enfermagem. Mas por que esses erros acontecem? Falta de treinamento, de supervisão? Quais os direitos do paciente e da família? O que fazer em caso de suspeita de erro? O programa Contraponto discute a educação médica e os direitos dos pacientes em casos de falhas no ambiente hospitalar.  

Para assistir o programa que apresento na TV PUC-Rio (UTV - Canal 11 da NET) clique aqui


Um computador e uma mulher

"Geração Y é um Blog inspirado em pessoas como eu, com nomes que começam ou contem um ípsilon. Nascidos na Cuba dos anos 70 e 80, marcados pelas escolas rurais, bonequinhos russos, saidas ilegais e frustração. Assim é que convido especialmente Yanisleidi, Yusimí, Yuniesky e outros que carregam seus ípsilons para que me leiam e me escrevam".

Conhecida por seu blog Generación Y, Yoani Sánchez é uma jornalista cubana que ficou famosa internacionalmente por criticar a situação social de Cuba. O blog foi criado em 2007 e logo ganhou proporções mundiais. Yoani precisa acessar a internet em cafés ou hotéis. Em Cuba, para ter um computador em casa com acesso a internet é preciso ser aprovado pelo governo.

As únicas armas de Yoani são um computador e um celular. Ela não é inimiga de nenhum partido. A jornalista é simplesmente uma cubana que conta no blog a sua vida cotidiana. Conta, por exemplo, a luta para conseguir o alimento que sua família precisa e as normas absurdas da repressão. Generación Y é o blog mais visitado de Cuba e tem tradução para 20 idiomas. Além da dificuldade do acesso à internet, Yoani já foi vítima de agressão e até sequestro. Em toda a mídia oficial cubana existem inúmeras acusações contra Yoani. As principais são de que seria uma mercenária paga pelo governo dos Estados Unidos e que seus artigos supostamente denigririam a revolução cubana e que ela estaria fomentando um subversão interna.

Abaixo uma entrevista que Yoani Sánchez deu por telefone para um programa de TV:


domingo, 25 de novembro de 2012

"Repórter bom é repórter vivo"

No Brasil, depois da morte do jornalista Tim Lopes, a segurança dos jornalistas foi repensada. No período pré-Tim Lopes os repórteres tinham mais facilidade em entrar em áreas de risco. Nas favelas, por exemplo, os traficantes olhavam os profissionais como porta-vozes da realidade das comunidades. Hoje, é preciso usar coletes à prova de bala, ser mais cauteloso e tentar fazer treinamentos periodicamente.

No livro "Jornalismo Diário", Ana Estela de Sousa Pinto enumera nove medidas de segurança em casos de riscos:

"x Se sentir que um cobertura apresenta um risco que você não está preparado para assumir, converse com seu editor. É jornalisticamente aceitável recusar uma cobertura quando há risco à saúde ou à vida. Repórter bom é repórter vivo.

x Se perceber que já tem experiência suficiente para se envolver numa cobertura de risco, não deixe de conversar com outros repórteres ainda mais experientes. Peça dicas, pergunte sobre os perigos pelos quais eles já passaram e sobre como contornaram o problema. Estude sua cobertura específica com eles, levante os possíveis riscos e maneiras de evitá-los.

x Conheça bem o local da cobertura. Levante mapas, fale com a delegacia da região, procure fotos do local. Saiba bem por onde vai andar e como fazer o caminho de volta, se for preciso.

x Se vai entrar em um bairro perigoso, faça antes contato com os chamados "líderes comunitários". Infelizmente, há locais nas grandes cidades em que não é possível entrar sem a proteção de moradores do local. Nesses casos, a cobertura pode ficar limitada e talvez seja interessante informar no texto as condições em que foi feita.

x Combine com seu editor horários em que vocês devem se falar por telefone. Combine o que cada um deve fazer caso uma dessas ligações não ocorra.

x Em São Paulo e no Rio, jornalistas já usam coletes à prova de bala e até capacetes em algumas coberturas. Consulte o editor sobre essa possibilidade, se achar que é o caso.

x Não aceite caronas. Em casos excepcionais, se conhecer bem a fonte, pode até passar. Mas procure sempre usar os meios de transporte da sua empresa.

x Com fontes que não conhece, só marque encontros em locais públicos, de preferência frequentados por mais gente, como restaurantes, shoppings, parques.

x Se, numa investigação, tiver que se encontrar com uma fonte em lugar que não seja público, leve um fotógrafo ou um repórter junto."

Neste ano, completou 10 anos da morte de Tim. Nos dias 31 de maio e 1 de julho de 2012 ocorreu o evento "Jornalismo de Risco: Tim Lopes 10 anos depois". Ele foi organizado pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM/RJ). Os vídeos do seminário estão na internet, coloquei os links abaixo.


Tema: os desafios do exercício do jornalismo no Brasil

Vídeo 1 (1h59min): Vera Araújo (O Globo), Ruy Sposati (Movimento Xingu Vivo, Altamira, Pará), Cândido Figueredo (ABC Color, Paraguai) e Francisco Evanildo Queiroz (Rádio Vale do Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Ceará) falam sobre estratégias usadas para difamar ou ameaçar os jornalistas, autocensura e impunidade dos crimes.
Vídeo 2 (1h44min): Suzana Blass (presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do RJ), Marcelo Moreira (presidente da Abraji), e Ricardo Trotti (SIP) debatem o que podem e devem fazer as empresas para prevenir riscos a suas equipes.
Vídeo 3 (1h12min): João Antônio Barros (O Dia) se uniu a Sposati, Figueredo e Queiroz no debate sobre formas de proteção. Ele mostrou exemplos do dia a dia da redação no Rio de Janeiro. A professora e diretora da Abraji Luciana Kraemer participou da conversa.
Vídeo 4 (2h28min): aborda os limites para se obter uma boa imagem, com a participação de Domingos Peixoto (O Globo), Daniel Andrade (Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro – Arfoc), Bira Carvalho (Imagens do Povo/Observatório de Favelas), Guillermo Planel (documentarista, RJ), e Bruno Quintella (filho de Tim Lopes e jornalista).

DIREITO PARA JORNALISTAS

O jornalista não é juiz, promotor e nem delegado. Por isso, não deve acusar uma pessoa de um crime, por exemplo. Mesmo em caso de confissão. Uma pessoa só pode ser considerada culpada de um crime depois de condenado em última instância. E uma pessoa que já cumpriu sua pena por um crime deixa de ser considerada assassina, ou qualquer outro título que a ela era atribuído antes de pagar por isso.

É por isso que os jornalistas, principalmente os investigativos, devem saber onde estão se metendo, o que podem publicar ou não e as possíveis consequências jurídicas que a reportagem pode ter.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) oferece o curso Introdução ao Direito para Jornalistas. As aulas são presenciais e ministradas por promotores ligados ao Ministério Público Democrático (MPD). O curso é focado nas necessidades mais comuns dos jornalistas. As aulas exploram os erros cometidos por jornalistas na cobertura jurídica usando exemplos tirados de reportagens de jornais. São explicados os caminhos dos processos, a estrutura da justiça brasileira e seus agentes, os jargões jurídicos, entre outras noções básicas de direito.

ERRO DE APURAÇÃO


Todo ser humano está sujeito a cometer erros. No meio hospitalar, por
exemplo, erros podem levar até a morte de um paciente. Já o erro de apuração jornalística pode provocar estragos inimagináveis. A apuração é o processo de produção jornalística crucial na elaboração de uma matéria. Apurar é checar, perguntar, rechecar, desconfiar e, por fim, informar.

Os erros não passam despercebidos. O leitor cobra. Uma falha considerada “boba” para o autor da matéria pode causar transtornos na vida de uma fonte ou do alvo da reportagem. Celebridades são quase sempre vítimas. Um conteúdo de entretenimento errado sobre algum modelo, atriz, cantor, por vezes, param na justiça. Por trás dos sites de “fofocas” estão jornalistas, e se são jornalistas, devem apurar a informação antes de publicá-la.

Errou?

 O erro é matéria e deve ser publicada. No livro “A Arte de Fazer um Jornal Diário”, Ricardo Noblat fala da dificuldade de publicar admissão de erros e lembra a atitude do Correio Braziliense:

“Em 3 de agosto de 2000, o Correio Braziliense cometeu um enorme erro em matéria que foi manchete de primeira página. A manchete dizia: “O grande negócio de Jorge”. Dava conta do envolvimento do ex-secretário da presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira em um negócio suspeito com o Banco do Brasil.

A matéria estava errada de uma ponta a outra. E na edição seguinte, o jornal assumiu o erro em manchete de primeira página.

A manchete “O Correio Errou” de 4 de agosto de 2000 ganhou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Impressa. Ganhou também, na mesma categoria, o Prêmio Claúdio Abramo de Jornalismo.”
 
 

sábado, 24 de novembro de 2012

Se torcer sai sangue?


O jornalismo, de uma maneira geral, precisa atender dois principais critérios de noticiabilidade: importância e interesse. O jornalismo investigativo é aquele que dá mais ênfase na questão das notícias importantes, ou seja, na importância social. Já o jornalismo chamado de sensacionalista, considerado ruim por pesquisadores e estudiosos, pode ter um viés importante nisso tudo. Uma questão fundamental para isso, é que em países emergentes, como o Brasil, África do Sul, Índia, China, o jornalismo impresso, diferente do que acontece na Europa e nos Estados Unidos, vem crescendo, aumentando a tiragem e surgindo novos títulos. A chamada nova economia do século XXI, vem aumentando o jornalismo para o que é chamado de nova classe média. A partir disso, o sucesso de jornais como o “Expresso”, “Meia Hora”, “Extra” e “O Dia”, chamam atenção. É preciso não ter preconceito da imprensa chamada de sensacionalista. Ela também possui contribuições importantes. Para uma série de autores, ou seja, o senso comum dos acadêmicos, o sensacionalismo é uma disfunção narcotizante. Segundo a teoria da comunicação, disfunção narcotizante é o efeito que o excesso de informação causa as “massas”, tornando as pessoas menos críticas devido ao grande volume de dados a que entra em contato. A crítica é principalmente à televisão.

Mas, por que não devemos ter preconceitos aos jornais populares? Um ponto é que, o que diferencia a imprensa de referência, chamada imprensa séria, da imprensa sensacionalista é o grau de utilização dessas narrativas. Outro ponto é que vários desses jornais, como O Dia, ganharam o Prêmio Esso de jornalismo. E o prêmio mostra o que é o ideal na prática jornalística e mostra o que há de melhor.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Abaixando a Máquina - Ética e dor no fotojornalismo carioca


O documentário Abaixando a Máquina aborda questões do fotojornalismo contemporâneo. Como o longa é de 2008, mostra um Rio de Janeiro antes das pacificações e com constantes confrontos entre traficantes e policiais nas comunidades cariocas. A principal característica dos fotógrafos é a ousadia. Eles enfrentam situações de risco sempre de olho no foco. O filme também mostra a relação entre os fotógrafos com as comunidades carentes. Exibe os dilemas dos profissionais atrás de suas câmeras e que, por vezes, se sentem obrigados a abaixar a máquina. 

"Quando falam que a gente é kamikaze, nu fundo é verdade." Nilton Claudino

"Nenhuma vida vale uma foto." Marcelo Carnaval

"Fotógrafo não faz demagogia, fotógrafo faz fotografia." Flávio Damm


Confira abaixo o filme completo:


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Homem morde cão




O que é notícia? Uma definição clássica: se um cachorro morde um homem, não é notícia, mas se um homem morde um cachorro, aí então é notícia. Tal explicação resume bem essa pergunta por englobar o pitoresco e o singular. Em contrapartida, a anormalidade da notícia é nomeada, comparada e analisada. Dessa forma é criada uma ideologia, para que os leitores se sintam representados pelos eventos que mais se identificam. Se identifiquem até mesmo no contraste (homem x animal). Isso pode ser notado na exploração do diferente que tende para o sensacionalismo. Usar a lógica das sensações é ser jornalista. Ser capaz de inserir o entretenimento no valor-notícia e mexer com a percepção do público. Sendo assim, “Homem mordendo cachorro” será sempre notícia. Veja algumas abaixo:




HOMEM MORDE CACHORRO NA ALEMANHA (Fonte: Folha Online)

sábado, 10 de novembro de 2012

"Histórias de Arcanjo - um documentário sobre Tim Lopes"




Foto Mauren McGee


Um jovem, mas nem tão jovem assim, filho do jornalista Tim Lopes, decidiu fazer um documentário sobre a vida do pai. Bruno Quintella é jornalista e trabalha na TV Globo. Ele foi até a PUC-Rio e falou do filme, da vida jornalística e, claro, do pai.

A ideia começou em 2004 quando o cinegrafista e amigo pessoal de Tim, Guilherme Azevedo procurou Bruno nos corredores da emissora, onde ambos trabalham. Mas apenas em 2009 os dois registraram o argumento do documentário na Biblioteca Nacional. Em 2010, os depoimentos começaram a ser gravados. Amigos, colegas que trabalharam com ele e pessoas que compartilharam da vida pessoal de Tim foram ouvidos.

Na construção do trabalho, Bruno conheceu mais o jornalista Tim Lopes. Para ele, as reportagens do pai eram como mini documentários. Tim tinha uma característica de falar pouco em suas matérias e dar voz aos seus personagens. Outra característica destacada pelo filho era o jornalismo humano do pai. Para Bruno, explorar sentimentos não é jornalismo humano. Ele chegou a citar casos recentes como exemplos, como o de Isabela Nardoni e o massacre da escola de Realengo. 

Tim Lopes e Bruno Quintella

O Bruno também abordou duas questões sobre a rotina jornalística. A primeira foi sobre os profissionais que migraram do impresso para o telejornalismo. Enquanto o jornalista da TV fazia apenas o feijão com arroz da matéria, o jornalista do impresso precisava apurar muitas informações para conseguir escrever mais. Por isso, matérias consagradas no telejornalismo são de repórteres que migraram do impresso. A segunda questão foi sobre o “jornalismo sentado”, ou seja, o repórter que deixa de gastar sola de sapato para ficar na frente do computador. Essa situação, segundo o Bruno, denota nas redações atualmente uma atitude correta. Enquanto o profissional que está na rua, “está voando, dando migué”.

Bruno ainda deu a visão dele sobre jornalismo investigativo, “Jornalismo investigativo não é jornalismo de morro, não é jornalismo policial” e complementou, “Jornalismo investigativo é, às vezes, você botar uma roupa e pegar um trem”.


Curiosidades

Uma seleção de fotos do Making of do Histórias de Arcanjo, retiradas da página do documentário no facebook. Fotos Mauren McGee.




























Um pouco de história









Mais conhecida como Nellie Bly, Elizabeth Jane Cochran foi pioneira das reportagens investigativas. A carreira começou com uma carta que contestava o artigo “Para que servem as mulheres?”, do jornal Pittsburgh Dispatch. O editor ficou surpreso com a qualidade da carta e convidou a jovem de apenas 18 anos para ser repórter do jornal. O pseudônimo Nellie Bly veio do nome de uma canção popular de Stephen Foster.

As primeiras matérias falavam do desamparo legal das mulheres. Nellie Bly não queria apenas ver de perto, mas queria ver de dentro as realidades sociais da época. A partir disso, ela começou a se disfarçar e passar pelas mesmas experiências que queria relatar. Ao escrever sobre exploração infantil e as péssimas condições que os trabalhadores eram submetidos, os donos ameaçaram a tirar os anúncios do jornal. Então, a jovem repórter foi transferida para a seção de eventos sociais. Não satisfeita, ela pediu licença do jornal e foi para o México. Lá, Nellie escreveu sobre a pobreza e corrupção local e foi expulsa do país pelo governo mexicano.

Ao voltar para os Estados Unidos, Nellie foi para Nova Iorque. Ela procurou emprego no New York World, jornal de Joseph Pulitzer (criador do prêmio Pulitzer). O primeiro trabalho da jornalista no jornal foi sobre o Sanatório de Mulheres na Blackwell, na qual passou pelas mesmas experiências das pacientes. 

Em 1888, inspirado no livro A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, de Júlio Verne, o New York World decidiu mandar um repórter em uma viagem ao redor do mundo. Nellie foi escolhida. Ela partiu de Hoboken, Nova Jersey, em 14 de novembro de 1889. Em 25 de janeiro de 1890, ela completou sua viagem ao redor do mundo. Ela visitou não só a Inglaterra, Japão, China, Hong Kong como no livro, mas também Amiens (o lar de Júlio Verne) Colombo e São Francisco. 





Curiosidade:

O primeiro newsgame (jogos casuais baseados em noticias [“news” em inglês] e em fatos reais.) da história retratou volta ao mundo de Nellie Bly.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O homem que desafiou a máfia italiana

 Ele tinha apenas 25 anos quando decidiu se infliltrar na violenta máfia napolitana. Roberto Saviano é autor de "Gomorra", o livro foi publicado na Itália em 2006 e denuncia não só o poder criminal da organização, mas também o seu império econômico. Narrado em estilo literário, Gomorra vendeu mais de dois milhões de cópias na Itália e de três milhões e meio no mundo e tornou Saviano conhecido. O livro inspirou o filme Gomorra (2008), que ganhou a Palma de Ouro no festival de Cannes. A coragem do escritor o condenou para sempre. Ele é jurado de morte pela Camorra, máfia napolitana, Saviano vive enclausurado, sem endereço fixo e têm a proteção de forte escolta policial.

A correspondente Ilzi Scamparini entrevistou o jovem jornalista para o programa Milênio, da Globo News. Segue abaixo a entrevista feita em um esconderijo.

ENTREVISTA (PARTE 01)


ENTREVISTA (VÍDEO EXTRA)



Após a entrevista, a jornalista Ilze Scamparini escreveu no site do Milênio contando sobre sua percepção em relação ao Saviano.


"Eu tinha a intuição de que o Saviano iria desmarcar a entrevista, na primeira data fixada.
De fato aconteceu.

Acho que faz parte da estratégia de proteção ao escritor, que convive com uma sentença de morte que durará para sempre. Porque o lugar comum de que a “máfia não esquece” é absolutamente verdadeiro.

Quando, três dias depois, finalmente Saviano entrou naquela sala, foi simpatia ao primeiro contato. E admiração. Rapaz corajoso, que ousou desafiar os clans mais poderosos da Camorra. Mais do que isso, que decidiu voltar para a Itália, depois de uma temporada nos Estados Unidos. E voltou para participar ativamente da vida do país e contribuir com as iniciativas anti-máfia.

Mas a minha impressao é a de que ele nao irá suportar por muito tempo. Todas as pessoas ligadas a ele – cada um dos seus afetos – também correm risco de morte.
Saviano exprime uma profunda amargura, uma certeza meio trágica de que a sua vida praticamente acabou. Nunca mais a liberdade, um gesto simples, andar na rua ou possuir uma casa, desfrutar da felicidade de uma vida de casal.

Fatalmente terá que sair da Itália, anônimo em algum lugar do mundo, quem sabe até com um outro rosto.
Por ter falado a verdade.
Pela força das palavras.
Isso é o mais doloroso de aceitar."


por Ilze Scamparini


Primeiro Prêmio Esso de Jornalismo (1956)

Página do site do Prêmio Esso



Partiu do jornalista Ney Peixote do Valle a ideia da criação de um prêmio voltado para o reconhecimento do trabalho dos profissionais das redações. Repórter político do Diário Carioca, ele deixou a impressa em 1953 para trabalhar na companhia Esso. Para dar credibilidade ao projeto, uma das primeira medidas de Valle foi buscar parceria com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), presidida por Herbet Moses.

Com o apoio da ABI e participação exclusiva de jornalistas na comissão julgadora, o projeto da empresa petrolífera conduzido por Ney Peixoto do Valle saiu do papel. Em 1956, foi lançada a primeira edição do Prêmio Esso de Reportagem, mais tarde rebatizado de Prêmio Esso de Jornalismo. A comissão julgadora era formada por nomes que participaram do processo de renovação e aperfeiçoamento dos padrões técnicos do jornalismo brasileiro. Além de Herbert Moses, presidente da ABI que participou da criação da prêmiação, o júri era composto por Alvez Pinheiro (O Globo), otto Lara Rezende (Manchete), Danton Jobim (Diário Carioca) e Antônio Callado (Correio da Manhã).

Inspirado no Pulitzer, principal prêmio de jornalismo americano, o Prêmio Esso foi criado adaptado à realidade brasileira. O resultado da primeira edição concedeu um prêmio único em 1956 para a revista O Cruzeiro pela reportagem "Uma tragédia brasileira: os paus-de-arara", de Mário de Moraes e Ubiratan de Lemos. Os jornalistas viajaram em um caminhão pau-de-arara do Rio de Janeiro para o Nordeste e do Nordeste de volta para o Rio, e os dois viveram as dificuldades enfrentadas pelos nordestinos que fogem da seca. Mário de Moraes chegou a contrair tifo na viagem e ficou doente por três meses. Com fotos produzidas por Mário de Moraes e texto informativo objetivo e rico em personagens de Ubiratan de Lemos, a reportagem mostrou as frustações dos retirantes em busca de uma vida melhor no Sul do país.

A produção e publicação da matéria na revista O Cruzeiro, em 22 de outubro de 1955, foi uma tarefa tão ou mais difícil do que a própria conquista do prêmio, que recebeu poucas inscrições em seu primeira ano:


“Naquele mesmo mês, outubro de 55, Amádio (José Amádio, diretor de redação do O Cruzeiro) Lemos suaram a camisa para fazer (...). Mário voltou com tifo e caiu de cama por três meses. Ubiratan ficou na pressão, mas nada de Amádio publicar. ‘Ele tinha horror a coisa de pobre’, diz Mário. No fechamento da edição de 22 de outubro de 55, faltou uma matéria paga que a sucursal de São Paulo deveria mandar. A reportagem finalmente saiu” (CARVALHO, 2001, p. 326)


No site do Prêmio Esso, na parte "Linha do Tempo" estão os vencedores de todas as edições. Atualmente, além do Prêmio Esso de Jornalismo, são distribuídos prêmios em 11 categorias, incluindo Criação Gráfica e Primeira Página. A televisão também passou a fazer parte do concurso desde 2001.


domingo, 30 de setembro de 2012

Técnicas nas reportagens investigativas

As reportagens investigativas têm como princípio a exposição de casos encobertos ou de difícil acesso.O jornalista investigativo, provocado por questionamentos, busca a essência dos acontecimentos e procura entender uma situação que prejudica, de alguma forma, a coletividade. 

Pepe Rodríguez (1994) aponta algumas características pessoais e estruturais que podem auxiliar um repórter no andamento de seu trabalho investigativo. Algumas qualidades são importantes, como ter uma boa observação, memória visual, capacidade de previsão e planejamento, improvisação, conhecimentos gerais amplos, discrição e capacidade de assumir riscos (RODRÍGUEZ, 1994, p.17). O tempo e a disponibilidade também são essenciais. 

No início da investigação, o repórter tenta reunir todos os fatos, até mesmo, os que possam parecer insignificantes. Combinar observação com pesquisa e estudo de arquivos públicos são técnicas úteis para a investigação. "É fundamental o conhecimento profundo dos mecanismos burocráticos onde os arquivos se encontram e que o jornalista tenha tempo de encontrá-los" (LOPES e PROENÇA, 2003, p. 17). Os autores Lopes e Proença (2003) apontam como regra fundamental para a condução de um trabalho investigativo a comprovação de endereços e nomes corretos das pessoas ou organismos das quais se fala. 

AS FONTES 

A fonte jornalística é um dos canais informativos dos repórteres. Ela é essencial a todo o trabalho jornalístico na construção de uma notícia. As fontes podem determinar a qualidade da informação produzida pelo repórter. O relacionamento entre repórter e fonte é sagrado e protegido pela Constituição Federal (Artigo 5º, inciso XIV, da Constituição Federal de 1988).  

A relação com a fonte deve ser muito profissional. Deve-se conferir à exaustão a confiabilidade das fontes e das informações. É importante lembrar que não se deve ficar preso às fontes oficiais e apurar profundamente as informações recebidas. A fonte em off pode ser fundamental, porém, o cuidado deve ser maior com esse tipo de informante. "Nesse caso, é fundamental que duas normas sejam estabelecidas: a razão do anonimato deve ser explicada na matéria e a informação oferecida deve ser checada com, no mínimo, outra fonte (LOPES e PROENÇA, 2003, p. 22).

Vale lembrar que o amado e idolatrado site de busca GOOGLE não é considerado fonte de pesquisa principal em uma matéria jornalística. A internet deve nos ajudar na apuração de um conteúdo e não prejudicar ou empobrecer uma informação. 





 


Narratively

O meu primeiro post aqui foi sobre o Narratively. O projeto pretende fazer um jornalismo mais lento com profundidade e foco local (Nova Iorque). Então, o projeto conseguiu arrecadar mais de $50.000 e foi fundado.




 NA WEB


Agora o Narratively está na web e posta notícias com um engajamento hiperlocal. Para impulsionar a esse tipo de engajamento, Narratively tem uma característica interessante chamado banco do parque. Toda sexta-feira no lugar de uma história, o site posta todos os comentários e reações dos leitores sobre as reportagens da semana.

 
O que é importante para o site são as noções de engajamento em múltiplos níveis. O conteúdo é direcionado a comunidade de forma cada vez mais próxima e local. Além disso, o Narratively proporciona uma interação com o conteúdo multimídia e, também, com a sessão banco do parque.





quarta-feira, 26 de setembro de 2012

“Candidato Acidental“



Jornal da Tarde infiltra candidato a vereador nas eleições deste ano em São Paulo. Segundo o site do jornal, o objetivo é cobrir a campanha eleitoral de uma perspectiva diferente. O jornalista, cuja identidade não foi revelada, posta em um blog como é a corrida eleitoral dos mais de 1,2 mil candidatos da cidade de São Paulo, a partir de sua própria experiência.

A iniciativa é inovadora mas volta em uma antiga discussão sobre os limites éticos jornalísticos. Será que no jornalismo vale tudo? A verdade é que o tal jornalista aceitou a “brincadeira” de enganar o TSE, inventar propostas de melhoria de vida para a população, participar de reuniões de partido, de eventos e caminhadas, fingir ser quem não é e enganar todos os eleitores que assistem o guia eleitoral em busca de mais informação. Sim, o candidato filiou-se a um partido, preencheu a papelada, apresentou CNPJ, formulou propostas e teve a candidatura aceita.


Existe uma linha tênue entre o limite ético e o jornalismo investigativo de qualidade. A questão é que o repórter está, em primeiro lugar, enganando o eleitor (leitor) assim como muitos outros candidatos. Não faz sentido ele denunciar o que ele está fazendo de uma certa maneira. A questão é se, realmente, existe a necessidade de esconder a identidade de repórter para conseguir informações preciosas e denúncias bombásticas.Talvez o erro seja revertido depois das eleição.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A SEMELHANÇA COM A REALIDADE NÃO É MERA COINCIDÊNCIA

(...) começo a entender que tudo aquilo que se escreve ou fala, mesmo de fatos ou pessoas reais, sempre se torna mítico, escorregadio e arbitrário. É impossível abranger toda a complexidade do homem. (SANT’ANNA, 1991: 205)
 


O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, em vigor há 25 anos e atualizado num congresso realizado em Vitória, em 2007, define que “a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público” (Art. 2º, inciso II). Nesse sentido, em um período eleitoral, como estamos atualmente, é intolerável que denúncias sejam aumentadas, diminuídas ou omitidas. É condenável, também, fazer acusações a um candidato para favorecer outro. Essa postura infringe outra parte do Código que delineia que “a obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação, a aplicação de censura e a indução à autocensura são delitos contra a sociedade” (Art. 2º, inciso V).


QUANDO CANDIDATO A VEREADOR VEM FALAR COMIGO EM UMA CAMINHADA (via jornalices)



          
 

De certo modo, não se deve esperar uma objetividade plena de um jornalista. Entretanto, a produção jornalística ainda é pautada de maneira que a objetividade prevaleça. O homework, na maior parte do tempo, está sendo feito. Os dois lados de um assunto são ouvidos. A conduta profissional é demonstrada nos pilares da veracidade, da precisão e da imparcialidade. É importante garantir esses preceitos independentemente da linha política de seus proprietários e/ou diretores ou da natureza econômica de suas empresas.

sábado, 15 de setembro de 2012

O sucesso da ProPublica

A ProPublica foi criada na era digital nos EUA, em um período que muitas publicações impressas tradicionais sofriam economicamente. Fundada em 2007 com um compromisso de longo prazo de US$ 30 milhões (em torno de R$ 61 milhões) dos filantropos Herbert e Marion Sandler, a entidade já ganhou diversos prêmios, incluindo um Pulitzer, em 2011, por reportagem nacional por uma série sobre Wall Street. Foi a primeira vez que um Pulitzer, a mais prestigiada premiação do jornalismo americano, foi concedido para matérias que não foram publicadas originalmente no meio impresso. A ProPublica é um modelo de sucesso de jornalismo investigativo.

A organização sem fins lucrativos também prestou contribuição para o chamado jornalismo de dados. A cobertura jornalística com base em dados é uma combinação de variados campos – de design gráfico a pesquisa investigativa. A ProPublica recebeu, este ano, US$ 1,9 milhão (quase R$ 4 milhões) da Knight Foundation para investimentos na área de jornalismo de dados. O dinheiro será usado para apoiar a equipe de aplicativos de notícias, incluindo o acréscimo de uma profissional em tempo integral.

Desde seu lançamento, há cinco anos, o ProPublica tem como objetivo ser uma “força moral” nas notícias. No entanto, a equipe fundadora não imaginava que o jornalismo de dados seria uma força propulsora no site.

Doações

Em sua missão, a ProPublica compromete-se a gastar US$ 0,85 de cada US$ 1 em notícias. Além disso, reforça o compromisso com o fato de ser uma entidade sem fins lucrativos – e a filantropia continuará a ser a principal fonte de receita.

Se você gostou e quiser conhecer mais sobre a ProPublica Clique aqui para ler as reportagens, em inglês.

sábado, 8 de setembro de 2012

Web 3.0

O polêmico Andrew Keen, autor de "O Culto do Amador", é conhecido por suas críticas à web 2.0 e apelidado como "o anticristo do Vale do Silício".  No livro, ele tem um olhar crítico sobre a internet e fala sobre o conteúdo produzido na internet.

Em agosto, ele lançou no Brasil o livro "Vertigem Vertical". Andrew defende a ideia de que criamos uma realidade na internet que não é a verdadeira realidade da nossa vida. Usando o cineasta Hitchcock como referência, o teórico fala do filme "Um Corpo Que Cai", onde um homem se apaixona por uma mulher que na verdade é a imagem do que ele idealiza como mulher, e não ela própria. "A internet está sendo apresentada como a rede que conecta as pessoas, mas isso é uma coisa que não existe", declara.

Andrew Keen em apresentação no The Next Web Latin America, em São Paulo.


"Todos os dias eu sou pego por uma nova rede social. Há redes sociais para dirigir, sair, comprar. Não gosto de compartilhar tudo sobre a minha vida. Essas redes incitam a gente a compartilhar tudo. O que nós comemos, o que nós escutamos, o que gostamos, o que fizemos, o que estamos fazendo e o que vamos fazer. (...) Nessa Web 3.0, nós somos a informação", declara o escritor.




Nessa entrevista à "IstoÉ Dinheiro", Andrew fala mais sobre o livro. Vale a pena conferir!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

ALÉM DO GOL

Organizado pelo jornalista Fernando Molica, 11 GOLS DE PLACA, terceiro volume da Coleção Jornalismo Investigativo, uma iniciativa da Editora Record e da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), traz uma seleção de grandes reportagens que ajudam a explicar muitas das infelicidades do nosso futebol.

A leitura das matérias transcritas no livro fala sobre problemas que se acumulam por muitas décadas. Uma escalação que mistura corrupção, pobreza, desemprego, falsificação de documentos, abuso de poder e exploração de menores.

O futebol revela o que temos de melhor e de pior. Como lembra o jornalista Paulo Vinicius Coelho, que assina a orelha do livro, a editoria de esportes é um celeiro de grandes jornalistas, e engloba todo tipo de reportagem – a eleição de um clube ou a crise em um time podem gerar boas matérias sobre política ou economia, enquanto a lesão de um craque e uma entrevista com o médico da equipe resultam em interessantes pautas de saúde.

O importante é conseguir fazer reportagens além da emoção que o esporte causa, ir além das técnicas e do gol. Uma coisa é se emocionar com o esporte e contar as belezas de um jogo, outra coisa é o que está por trás e por baixo disso tudo.
















terça-feira, 28 de agosto de 2012

Futuro do jornalismo investigativo americano?


O jornalista Noah Rosenberg, criador do Narratively, quer oferecer conteúdo jornalístico com profundidade e foco local.

Na era do “fast-food” de notícias, em que as informações são publicadas em ritmo acelerado e de consumo fácil, as reportagens investigativas longas parecem não conseguir se enquadrar aos 140 caracteres do Twitter.

O colaborador do New York Times, Noah Rosenberg, parece querer nadar contra a corrente.
O projeto Narratively ("Narrativamente"), pretende produzir um material mais lento e aprofundado. A redação do Narratively, composta por 30 jornalistas nova-iorquinos, deixará de lado as notícias de última hora para se concentrar em matérias originais de longa pesquisa e artigos com cinco mil palavras.

Esse tipo de jornalismo ficou restrito a uma pequena elite, como a revista The New Yorker ou o próprio The New York Times. O diferencial do Narratively é que ele vai estar apenas na internet. Ou seja, não vai ter problemas de espaço, sem contar com as possibilidades da tecnologia digital.  

O projeto está no site Kickstarter para arrecadar fundos e tornar real a ideia desse novo/antigo modelo jornalístico. A meta da quantia é de $50.000 e deve ser arrecadada até às 11 da manhã, do dia 10 de setembro.

http://www.kickstarter.com/projects/narratively/narratively